Mesmo parecendo um paradoxo, essa frase consegue ser certa e errada ao mesmo tempo. Tudo porquê os extremos se apossaram de como nós contextualizamos uma fala.
Em certo sentido essa frase expressa uma ideia errada. A de que um homem não chora nunca. Ao ouvir essa frase podemos fechar nossos olhos e imaginar um cowboy de filme de faroeste carrancudo que não apenas nunca chora, mas que também nunca ri, apenas lança um sorriso com o canto da boca quando está extremamente feliz.
Essa imagem muito difundida nas décadas passadas, de um ser impassível que não demonstra sentimentos, foi por muito tempo um ideal de masculinidade que moldou a sociedade norte-americana e se difundiu em todo o ocidente. Mas como todo ideal inalcançável, ela causou mais males que benefícios. Homens que não sabiam expressar seu sentimentos de forma saudável, recorriam ou a violência ou a ira como meio de extravasar seus sentimentos reprimidos; e também existiram aqueles que incapazes de conviver consigo mesmos acabavam por tirar a própria vida.
A resposta a esse movimento não foi nada melhor. Os movimentos contra a chamada "masculinidade tóxica", cometeram excessos tão prejudiciais a saúde mental e social dos homens quanto aquilo que buscavam combater. Criminalizando todo e qualquer comportamento masculino, criaram uma crise de identidade em larga escala. Meninos perderam a referência do que é ser homem (e não estou falando de Rambo ou John Wayne).
Mas em que sentido esta frase está correta? No sentido menos polarizado o possível. Me lembro quem em 2022 após as chuvas que assolaram a cidade de Petrópolis no Rio de Janeiro, chegou em mim a história de um homem que havia perdido tudo. Não apenas casa, mas toda a família foi morta pelas chuvas. Algo igual aconteceu esse ano durante as cheias que assolaram o Rio Grande do Sul: um vídeo onde um homem que acabara de perder a casa, a mulher e o filho é entrevistado pela jornalista e, em choque, tudo o que ele desejava no momento era buscar os corpos da família. Foram casos onde eu desabei. Um simples espectador chorando pela desgraça sofrida por outros. Diante da tragédia não existe cowboy impassível.
E se eu, um simples homem mortal desabo em situações assim, o que dizer de Jesus. Uma das frases curtas mais citadas da bíblia refere-se a isso: "Jesus chorou" (João 11:35). E isso é significativo. Enquanto Jesus percorria a Judeia chegou um aviso de que seu amigo Lázaro estava doente. Depois de alguns dias Lazaro morre e quando Jesus chega diante de seu túmulo, mesmo sabendo que ele ressuscitaria Lazarus poucos minutos depois, Jesus chora diante da miséria humana. Se Jesus, que para os cristãos é Deus, chorou, quer dizer que sobre a identidade humana o choro é inevitável.
As várias ideologias contemporâneas sobre o choro acabam por minar a identidade humana, masculina e feminina; fazendo com que pessoas abracem ideias extremas de que o homem não chora nunca ou que o homem deve chorar para desconstruir um comportamento opressor. Esses extremos devem ser combatidos abraçando a antiga ideia do meio termo: nem 8 nem 80.
Assim, Homens choram, mas no momento devido. Mas isso não dura a vida toda. Isso porque, como escreveu C.S. Lewis em seu livro "A cadeira de prata", um dos livros que compõe as Crônicas de Nárnia:
"Chorar funciona mais ou menos enquanto dura. Porém, mais cedo ou mais tarde, é preciso parar de chorar e tomar uma decisão."